domingo, 2 de dezembro de 2012

Yes, We Cão!

   

A Copa no Brasil é um sonho ou pesadelo? Há insatisfação dos brasileiros em relação ao evento? 

* Esta postagem reflete a primeira parte da entrevista que dei a Fernando Caulyt, da redação brasileira do Deutsche Welle


No infeliz episódio do "chute no traseiro", pelo menos uma declaração de Jérôme Valke, secretário geral da FIFA, talvez seja certa, a de que, para o Brasil, é mais importante ganhar a Copa do que organizá-la.

A Copa é ansiosamente esperada por todos nós brasileiros, seja onde for... no Japão, Coréia do Sul, Alemanha ou África do Sul. A cada quatro anos, o que se vive no país em dia de jogo da Seleção é o que a antropóloga Simone Guedes chama de “tempo suspenso”.

Sopra o apito, nada mais fora das quatro linhas importa e nosso cotidiano se vê interditado pelos 90 minutos de bola rolando, é o que acontece. O Brasil quase todo para! Esta paixão pela Seleção acaba por se desdobrar num sentimento de orgulho cívico ante a possibilidade de uma Copa no Brasil.

Tal sentimento se expressa na fala de Lula ao comemorar a conquista brasileira de sediar a Copa FIFA de 2014 e também os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. Para o então presidente, o Brasil ganhou sua cidadania internacional, deixando de ser visto como um país de segunda classe.

Estamos superando nosso "complexo de vira-lata" rodriguiano, foi este o tom das análises em relação a fala do presidente...

Yes, we cão!

Queremos ganhar a Copa e queremos também a Copa no Brasil. Sim, existe um amplo apoio popular à realização da Copa no país, ainda que, conforme demonstram as pesquisas de opinião, este apoio cai quando são "manchetizadas" notícias de atraso nas obras e aumento dos gastos públicos envolvendo a organização do evento.

Vejamos...

  • Uma pesquisa realizada pelo IBOPE em 2011, revelou que, em relação ao Brasil sediar a Copa de 2014, 8% dos brasileiros se diz muito otimistas, 47% otimistas, 35% indiferentes, 1% pessimistas e 4% não responderam.
  • Um outro levantamento feito pela Paraná Pesquisas mostra que a participação da cidade de Curitiba como subsede da Copa teve o aval da população diminuído de 84,3% em 2010 para 66,5% em 2011. Um dos motivos identificados para a diminuição do apoio foi o atraso das obras de reforma da Arena da Baixada e a morosidade dos demais projetos urbanísticos de preparação da cidade.

Há, então, satisfação ou insatisfação dos brasileiros em relação ao evento? Penso que a satisfação está presente. Queremos ganhar e podemos organizar a Copa. Este é o sentimento que predomina. É difícil encontrar um brasileiro que não deseje ver seu país vitorioso, seja pelo feito esportivo ou por sua capacidade de auto-determinar-se como nação.

Por outro lado, isto não quer dizer que o brasileiro também não esteja atento ao desenrolar dos acontecimentos, mas, em grande medida, influenciado pelo consumo das notícias.
 
Neste cenário, o comportamento da mídia nacional, que é decisivo na variação positiva ou negativa do apoio popular ao evento, é pra lá de ambíguo. De um lado, aplaude a iniciativa tendo em vista as oportunidades de negócio geradas e, de outro, questiona a participação governamental na organização do evento.

Há na crítica, uma questão de fundo, relativa ao papel jogado pelo Estado e pelo governo do PT – Lula e Dilma – à frente do projeto.

O que quero dizer é que, sob o ponto de vista do mercado livre e festivo, a Copa representa para o mundo dos negócios, incluso para as grandes corporações da mídia nacional, grandes possibilidades de lucro.

Lembremos que a Globo foi escolhida pela FIFA para a transmissão dos 64 jogos da Copa no Brasil e que os valores dessa transação não foram divulgados.

Ocorre que, sob a lógica dos negócios, ótimo que a Copa seja no Brasil. Mas quando se trata do projeto político e o modelo de desenvolvimento ao qual a organização dos megaeventos estão articulados, aí a grande mídia sai em defesa dos princípios do gerencialismo estatal e ajuste fiscal, e sua crítica dirigida ao governo pela organização e planejamento do evento é contundente.

De todo modo, o espetáculo não pode parar...

Ontem mesmo, estavam todos lá:
Dilma, Aldo, Marin, Blatter, Valke, Felipão, Parreira, Cafú, Cafusa, Fuleco...

O fato é que os elementos de marketing mobilizados pelos organizadores vêm funcionando como forte instrumento político para legitimação e construção de consensos e orgulho cívico em torno do projeto, este último, apesar da oscilação da opinião pública, apresentado como expressão da própria vontade geral da nação.


Os megaeventos esportivos são vistos como uma espécie de catalisador de obras e investimentos dinamizando a economia. Ainda que superestimados, os impactos sociais e econômicos esperados se articulam ao modelo de desenvolvimento idealizado pelo governo liderado pelo PT, o “neodesenvolvimentismo”. Trata-se de um projeto pautado na manutenção da estabilidade e ação distributiva do Estado, este último, um Estado mais forte, induzindo o crescimento e coordenando os investimentos no país a partir de estratégias de planejamento de longo prazo. Em linhas gerais, o “neodesenvolvimentismo” pode ser explicado a partir de três eixos: a aliança com o capital nacional pela qual, via BNDES, o governo empenha-se em fortalecer as grandes empresas nacionais; o investimento, através do PAC; e, a recuperação da capacidade do Estado de prover políticas e programas sociais de inclusão e redução da pobreza, a exemplo do Bolsa Família. Na relação deste modelo com a Copa de 2014, enquanto o Estado investidor garante as grandes obras de infraestrutura, o Estado financiador opera na concessão de crédito aos grupos empresariais envolvidos com a construção das arenas esportivas, expansão da rede hoteleira e serviços turísticos, incremento em tecnologias de informação e telecomunicações, dentre outros setores. Por sua vez, o Estado social cuida do manejo social do risco, isto é, das políticas sociais de caráter pacificador.


Minha opinião:
Nem sonho nem pesadelo, a Copa no Brasil é o contraditório em processo... sonho e pesadelo... pesadelo e sonho... sonho e pesadelo...

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